Filme sobre Moçambique exibido no Festival de Gutemburgo na Suécia


O título em causa é Our madness, o mesmo que nossa loucura, e foi exibido nos dias 26, 28, 30 e 31 de Janeiro, no Göteborg Film Festival, na Suécia. A obra cinematográfica, com hora e meia de duração, tem a realização do português João Viana, conhecido autor de várias curtas-metragens, e foi rodado em Moçambique há mais ou menos três anos.

A longa-metragem do realizador português alicerça-se à história de uma mulher para retratar contextos atinentes à realidade moçambicana, concentrando-se nos efeitos da guerra, questionando a essência da loucura e desafiando os conceitos sobre a lucidez.

Lucy é uma das personagens de Our madness, a qual, estando internada no Hospital Psiquiátrico de Infulene, arredores da cidade de Maputo, tem que conviver com a imagem distante do filho que foi arrancado dela e do marido, envolvido num conflito armado. Portanto, Our madness é uma produção sobre a realidade de um povo que ainda não se esqueceu das consequências geradas pelo som das armas, sem deixar à parte o folclore e o misticismo que caracteriza as sociedades africanas em geral.  

Este filme exibido semana passada na cidade sueca de Gutemburgo, na qual as temperaturas meteorológicas rondavam os 0 graus, é uma produção de Moçambique, Guiné-Bissau, Portugal e França, sendo que teve financiamento para pós-produção do Qatar, concretamente do Doha Film Institut, entidade que, entre muitas funções, fomenta o cinema e as produções de cineastas daquele país e estrangeiros.

Our madness integrou uma lista do Göteborg Film Festival constituída por cerca de 400 filmes de 83 países, o que quer dizer que o filme sobre Moçambique pode ser visto por milhares de pessoas no principal festival cinematográfico dos países nórdicos, o qual, nesta 42ª edição alertou aos participantes para a necessidade de preservação ambiental de forma sustentável.

Quanto ao elenco, a ficha técnica inclui: Bernardo Guiamba (Pack),Emerson Sanjane, (Enfermeira 1), Ernania Rainha (Lucy), Francisco Manjate (Enfermeira 2), Francisco Muxanga (Mau da fita), Hanic Corio (Rapaz), Janete Mutemba (Rapariga Louca 1), Jessica Laimo (Rapariga Louca 2), Mamadu Baio (Estrela Internacional), Rosa Mario (Padre). O argumento de Our madness pertence ao próprio director do filme, João Viana; o desenho de produção esteve com Marieta Mandjate e um dos produtores foi Sol de Carvalho. O desenho de som esteve com Mário Dias; a direcção de Fotografia com Sabine Lancelin; a montagem foi confiada a Edgar Feldman; a música esteve na responsabilidade de Pedro Carneiro e o som de Gabriel Mondlane. A produção foi encarregue a Les Filmes de l'aprés-midi, Telecine Bissau, Promarte  e Papaveronoir.

Our madness foi um dos 15 projectos seleccionados, em 2015, para o Cinefondation Atelier do Festival de Cannes, importante atelier que apoia realizadores com projectos inovadores, e foi distinguido no IndieLisboa com o Prémio Allianz para Melhor Longa-metragem Portuguesa, ano passado.
Além de Our madness, João Vina é autor das curtas-metragens A piscina, Alfama ou Tabatô e da longa metragem A batalha de Tabatô.
 
OUTROS FILMES EXIBIDOS

À semelhança de Our madness, na presente edição do Göteborg Film Festival foram exibidos mais obras cinematográficas africanos, por exemplo: Rafifi (Quénia), The Harveresters (África do Sul) e When arabs danced (Marrocos). Do país anfitrião, destaca-se um título cuja projecção foi muito concorrida: Koko-di koko-da, da autoria do realizador e escritor sueco Johannes Nyholm. A fim de ver aquele filme, espectadores de vários cantos do mundo lotaram, no passado dia 31 de Janeiro, a principal sala do Göteborg Film Festival: o cinema Draken, em vigor desde 1956. A longa-metragem lançada mês passado retrata os dramas enfrentados por um casal numa altura em que perdem o seu bem mais precioso: a filha. Segundo Johannes Nyholm, que respondeu às perguntas dos espectadores depois da projecção do filme, igualmente, Koko-di koko-da é uma história sobre relacionamentos e que se esmera em retratar uma circunstância de várias maneiras. Outros títulos de filmes exibidos durante uma semana e meia de festival, de 25 de Janeiro a 4 de Fevereiro, foram os suecos: Aniara, Boy in Bollywood, Moa Martinson – Landsmodern, Sasong, e Lucy one. Mas também houve propostas de outras latitudes, como as seguintes: Jumpman (Rússia), Volcano (Ucrânia), I fel good (França), 1985 (Estados Unidos), José (Guatemala), Domingo (Brasil) e Dry Martina (Chile).
 
SOBRE O FESTIVAL DE GUTEMBURGO

O Göteborg Film Festival é o maior evento cinematográfico dos países nórdicos (Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e Islândia). Foi inaugurado em 1979 e já vai na sua 42ª edição. Uma das preocupações da organização é atrair artistas e apreciadores da sétima arte à cidade de Gutemburgo, onde viveu o escritor sueco Henning Mankell, que fundou e dirigiu o Teatro Avenida, a partir de 1986, na cidade de Maputo. Anualmente, a iniciativa atrai mais de 160 mil pessoas, provenientes de vários cantos do mundo e é antecedido por um festival para crianças na segunda quinzena de Janeiro. Paralelamente com a exibição de filmes, Göteborg Film Festival inclui debates e apresentações sobre a sétima arte. A presente edição decorreu entre 25 de Janeiro e 4 de Fevereiro. Cerca de 20% de toda a população de Gotebug vai ao festival, o que, para Howard Fishman, jornalista norte-americano que participou no evento, é extraordinário, pois isso faz com que a indústria do cinema mexa com as pessoas a nível internacional e da comunidade local sueca. Até porque, “pessoalmente, sinto que qualquer boa arte tem o poder de ser transformadora para uma audiência”, considerou Fishman, confessando que ficou muito impressionado com os filmes que viu.


Fonte: http://opais.sapo.mz

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